quinta-feira, janeiro 02, 2014

O MOTIM na Casa do Infante a partir de 10 de janeiro de 2014


A exposição de pintura e desenho "O Motim" que vai estar patente ao público na CASA DO INFANTE , Porto ,a partir de 10 de janeiro de 2014, baseia-se na peça de Teatro O MOTIM de Miguel Franco.
A ideia surge no sentido de tornar presente o nome daquele dramaturgo,considerado um dos nomes mais importantes da dramaturgia histórica em Portugal nos anos 60/70.

Plasticamente não se cola a um carácter descritivo mas tento pôr em relevo os "tempos" mais dramáticos que decorrem ao longo do desenvolvimento da acção decorrente dos caminhos da história teatralizada na obra.


Agradeço a colaboração de Rui Oliveira,actor, 
do Arquitecto Pinto Pereira,
da Dra. Graça Teixeira , doutorada pela Universidade Aberta.

Agradeço a disponibilidade demonstrada pelo actor António Reis que fará uma breve alocução sobre O MOTIM de Miguel Franco e ao Professor Rocha de Sousa que introduzirá uma breve análise da minha obra plástica.

A exposição inaugura às 17h30 do dia 10 de janeiro de 2014.

Vai estar patente ao público até 23 de Fevereiro
com o seguinte horário: 
- Segunda a sexta – 9:30-17:00
- Fim-de-semana – 9:30/12.30 – 14:00/17:00
- Encerra aos feriados





MOTIM.1               
          A ARTE PERANTE A AMOTINAÇÃO

A razão de tudo o que formatou em boa parte a peça de teatro O MOTIM, vem das queixas contra as liberdades individuais na venda de um decisivo produto local, o vinho. Proprietários e gananciosos da centralização, das matérias e do seu comércio, conquistaram, sob o manto doloso dos políticos
A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas — pela qual se encerram tascas e bebedores, lugares da convivialidade comunitária, corte laminar numa concepção de solidária do viver repartido nas distâncias e nas proximidades. E um dia, entre os murmúrios de dentes cerrados, uma revolta se congemina: e assim o povo invade as ruas, amotinado, grandes e pequenos lances contra a Companhia. A alegria espalha-se na aparente reconquista de um comércio distribuído em rotinas seculares e no júbilo do próprio risco. Só que o levantamento foi abafado, com as devidas orientações quanto ao julgamento e a exemplares castigos. Houve uma enorme concentração de poderes nas mãos cruéis do escrivão José Mascarenhas, filho do presidente do tribunal, João Pacheco Pereira Vasconcelos. Alguns acusados do motim são interrogados com brutalidade e mesmo sob tortura. E o processo arrasa quase tudo o que passa sob um tribunal insano, condenados aguardando a execução, o morte, o fim, tudo num clima lúgubre e funesto.
No outro dia torna-se imperativo abrir o tempo de nojo e continuar uma longa, quase intemporal, força de resistência. Mas esta verdade histórica, em parte ficcionada como metáfora sobre as condições sociais da vida humana, havia sido instaurada em peça de teatro, o MOTIM, de Miguel Franco. Termina nas brumas que baixam sobre todas as tragédias e, desta fez, com uma espécie de aforismo ou proclamação resistente: «Um homem sem medo não morre».

As artes pertencem todas à mesma raiz da natureza humana, existência e espírito, podem sempre relacionar-se da diferença à semelhança, entre o que a memória transfere para a palavra ou para a imagem, no tempo suspenso da pintura ou na percepção conduzida pela duração representativa, através  do teatro, da música ou do cinema. Maria João Franco, abordando pela forma plástica certo ideia expressiva, dolorosa, da peça O Motim, corre em tortura a demora e o sentido de uma mensagem poderosa no superior risco de plasmar sobre a tela, sem qualquer obviedade ilustrativa, o supremo delírio das máscaras inertes, presas fora do tempo mas levando cada mensagem pictórica, num grito expressionista e lírico, para lá dos muros ou dos longos olhares narrativos: porque os factos e as personagens que ela manipula, na derradeira tragédia das condenações, sob a iniquidade do poder espúrio, engloba a beleza de personagens na linha do protoplasma, antes e depois de serem, na revolta e na dor, gente viva. Numa encenação sacra e poderosa, as telas encerram e desvendam, por cada contemplação nossa, passos da terrível sentença da Alçada no impúdico desfecho pela morte iníqua, entre carrascos mumificados e gritos de almas a sangrar. Não é apenas uma performance plástica, sob tutela teatral, é sobretudo a marca das sensações que atravessaram este outro lado da criação, a mancha, a sombra, a transparência, o mundo humano em denegação, suspenso parietalmente, como em crucificação, de súbito num silêncio de pedra, mortal e acusador.

ROCHA DE SOUSA

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