segunda-feira, novembro 30, 2015

CORPOS DE MIM, ainda...

quinta-feira, novembro 26, 2015

Dia 28 de novembro , pelas 16 horas na Galeria Quattro, em Leiria abre ao público a exposição individual de Maria João Franco "CORPOS DE MIM, ainda ..." /// pintura e desenho



memória de meus sulcos, ainda































pormenor

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texto de catálogo


DO ALÉM, SEM MÁGOA
     Maria João Franco, dias depois da morte de alguém, percebeu que as suas próprias mãos já não entendiam a identidade dos relevos, as mãos cruzadas
 por cima da sai preta, nodosas, de súbito inertes, enquanto se defendia da percepção dos corpos na luz azeda, deixando  que as pálpebras tombassem   e ensombrassem o horror nocturno dos rostos em volta, desfocados, cinzentos, 
presos do nada, como se limitassem a esperar pela madrugada.
     Daqui em diante, o sírios afrouxando, o cheiro da cera envolvendo o nariz e  as faces bruxas de todas as sonolências em redor, os olhos de Maria secaram,  ardendo do tempo frio e da noite cujo silêncio era muito levemente tocado de  palavras ciciadas, tosses contidas, respirações envelhecidas de mistura com o  sopro gelado que a luz, então já baça, parecia fazer deslizar pelos degraus dos  corpos encostados entre si. Maria João voltou pela primeira vez a cabeça, atraída pelo corpo de um velho muito velho que viera colar-se  ao canto da sala, deitado, encolhido, os panos sujos e os jornais que o haviam ajudado a descansar, meio perdidos de um sono agitado. Sono do qual sobravam carnes roxas, atravessadas por trapos de uma camisola interior, e assim deixando pender um ventre branco, cheio de manchas como as margaridas da morte, parte de uma vida que ainda se sentia através dos sinais de cada aspiração, de cada expiração, talvez a última, toda a imagem se tornava destroço pictórico, um sono repulsivo mas inventado por Deus, ali tão perto e tão longe. Todos sairiam em breve para encobrir a morte e alguns revisitando as imagens dos cadáveres caídos nas selvas do império, ou os familiares exilados em abrigos exíguos, pulsando levemente o que sobrava deles, entre comas profundos mas inspirando os ventos da máquina que os soprava pelas bocas até aos brônquios sem espaço.
       E assim, invento eu, na amizade que selámos há muito com um beijo na face fria, a pintora recolhia-se a uma ideia de morte em vida, de vida morte, de corpos fantasmáticos, empedrecidos, ora ainda encostados à postura do bípedo, ora desfeitos em massas musculares, peles em derrame, artérias e veias na derradeira palpitação, tudo em cinzas ou cor da pele emsombrada, violácia, gente perto de outra gente, além da morte ou aquém dela, por vezes ainda olhando entre distâncias, no fio da urgência e do grito em segredo, o fim, o nada de histórias lentas e longas na mediania meridional de um país emigrante e demograficamente pobre.
     Já olharam esta pintura assim, de um ponto de vista em compromisso com os cemitérios do absurdo e os genocídios da modernidade ensandecida?
      Olhem então, entre a compaixão e o medo do que significam: somos nós um dia, por fora da consciência e da razão, e contudo terrivelmente presos à forma da não forma, as exumações para saber a verdade superficial de um afogamento vulgar, sobrando das águas turvas de uma piscina sobre a qual, além do morto, tombaram, dias e dias, as folhas envelhecidas do arvoredo em volta. Depois há os vultos da pintura, os deuses crucificados, os inimigos sangrando ainda vivos enquanto o olhar se lhes turvava e a nossa inquietação se deixa apropriar por um tronco hirto, banhado de gesso, gigantesco no olhar em cova, um pequeno braço pendido, vestes mais insinuadas do que representadas, a luz de frente, ninguém para dizer o acontecimento. São almas, senhor? Voltam da batalha da vida ou não passam de retratos emergido de indizíveis motins, a mão pousada de lado, a transparência em rosa explicando a transcendência do espaço. Um vulto humano, nu, degolado, ainda avança na direcção de quem o olha e de quem ainda vê as cordas e as algas do fundo do mar como que anunciando a tragédia, dois pássaros a meio e no cimo, que a lupa nos permite sondar e defender apenas como indícios da Natureza
      Tudo isto, um sonho ou a reinvenção do abismo, lembra o  mendigo dormindo (morto) no recanto em sombra de uma talvez sacristia onde a cera ainda se derretia. E a Maria João Franco chora a nua distância das suas imagens, ou memórias, pernas nuas de mulher ou menina com os joelhos fechados sobre as folhas secas de uma perda, de uma noite esvaziada das suas luzes surdas. Perante tudo isto, entre a ideia de um amor dessecado, toda esta pintura gritante, muda, expressionista, vandaliza as nossas veias rasgadas e deixa-nos à mercê de uma derradeira paixão pelas formas quase despojadas de cor.
 Cada desastre é o início da reconstrução para outros inícios, além.


Rocha de Sousa



Sim
sonhei
e tu entraste no meu sonho
pássaro embrulhado na lama do meu sal.
Espelho desta lama num céu tão estrelado
Até já!
Maria João Franco



contactos:
franco.mariajoao@gmail.com
tm 919276762






quarta-feira, novembro 18, 2015

" CORPOS DE MIM, ainda ... " CONVITE


Inaugura dia 28 de Novembro , pelas 16 horas ,

 na Galeria Quattro, em Leiria

a exposição

"CORPOS DE MIM,  ainda ..."



Quattro GaleriaExposição "CORPOS DE MIM, AINDA..." - Pintura e Desenho

DO ALÉM, SEM MÁGOA
     Maria João Franco, dias depois da morte de alguém, percebeu que as suas próprias mãos já não entendiam a identidade dos relevos, as mãos cruzadas por cima da sai preta, nodosas, de súbito inertes, enquanto se defendia da percepção dos corpos na luz azeda, deixando  que as pálpebras tombassem   e ensombrassem o horror nocturno dos rostos em volta, desfocados, cinzentos, presos do nada, como se limitassem a esperar pela madrugada.
     Daqui em diante, o sírios afrouxando, o cheiro da cera envolvendo o nariz e as faces bruxas de todas as sonolências em redor, os olhos de Maria secaram, ardendo do tempo frio e da noite cujo silêncio era muito levemente tocado de palavras ciciadas, tosses contidas, respirações envelhecidas de mistura com o sopro gelado que a luz, então já baça, parecia fazer deslizar pelos degraus dos corpos encostados entre si. Maria João voltou pela primeira vez a cabeça, atraída pelo corpo de um velho muito velho que viera colar-se  ao canto da sala, deitado, encolhido, os panos sujos e os jornais que o haviam ajudado a descansar, meio perdidos de um sono agitado. Sono do qual sobravam carnes roxas, atravessadas por trapos de uma camisola interior, e assim deixando pender um ventre branco, cheio de manchas como as margaridas da morte, parte de uma vida que ainda se sentia através dos sinais de cada aspiração, de cada expiração, talvez a última, toda a imagem se tornava destroço pictórico, um sono repulsivo mas inventado por Deus, ali tão perto e tão longe. Todos sairiam em breve para encobrir a morte e alguns revisitando as imagens dos cadáveres caídos nas selvas do império, ou os familiares exilados em abrigos exíguos, pulsando levemente o que sobrava deles, entre comas profundos mas inspirando os ventos da máquina que os soprava pelas bocas até aos brônquios sem espaço.
       E assim, invento eu, na amizade que selámos há muito com um beijo na face fria, a pintora recolhia-se a uma ideia de morte em vida, de vida morte, de corpos fantasmáticos, empedrecidos, ora ainda encostados à postura do bípedo, ora desfeitos em massas musculares, peles em derrame, artérias e veias na derradeira palpitação, tudo em cinzas ou cor da pele emsombrada, violácia, gente perto de outra gente, além da morte ou aquém dela, por vezes ainda olhando entre distâncias, no fio da urgência e do grito em segredo, o fim, o nada de histórias lentas e longas na mediania meridional de um país emigrante e demograficamente pobre.
     Já olharam esta pintura assim, de um ponto de vista em compromisso com os cemitérios do absurdo e os genocídios da modernidade ensandecida?
      Olhem então, entre a compaixão e o medo do que significam: somos nós um dia, por fora da consciência e da razão, e contudo terrivelmente presos à forma da não forma, as exumações para saber a verdade superficial de um afogamento vulgar, sobrando das águas turvas de uma piscina sobre a qual, além do morto, tombaram, dias e dias, as folhas envelhecidas do arvoredo em volta. Depois há os vultos da pintura, os deuses crucificados, os inimigos sangrando ainda vivos enquanto o olhar se lhes turvava e a nossa inquietação se deixa apropriar por um tronco hirto, banhado de gesso, gigantesco no olhar em cova, um pequeno braço pendido, vestes mais insinuadas do que representadas, a luz de frente, ninguém para dizer o acontecimento. São almas, senhor? Voltam da batalha da vida ou não passam de retratos emergido de indizíveis motins, a mão pousada de lado, a transparência em rosa explicando a transcendência do espaço. Um vulto humano, nu, degolado, ainda avança na direcção de quem o olha e de quem ainda vê as cordas e as algas do fundo do mar como que anunciando a tragédia, dois pássaros a meio e no cimo, que a lupa nos permite sondar e defender apenas como indícios da Natureza
      Tudo isto, um sonho ou a reinvenção do abismo, lembra o  mendigo dormindo (morto) no recanto em sombra de uma talvez sacristia onde a cera ainda se derretia. E a Maria João Franco chora a nua distância das suas imagens, ou memórias, pernas nuas de mulher ou menina com os joelhos fechados sobre as folhas secas de uma perda, de uma noite esvaziada das suas luzes surdas. Perante tudo isto, entre a ideia de um amor dessecado, toda esta pintura gritante, muda, expressionista, vandaliza as nossas veias rasgadas e deixa-nos à mercê de uma derradeira paixão pelas formas quase despojadas de cor. Cada desastre é o início da reconstrução para outros inícios, além.


Rocha de Sousa









Esperamos a sua visita!


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quarta-feira, novembro 04, 2015

Sou mais Amor e mais Cão





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